Nota Oficial de Pesar da ABGLT
Assassinato do ativista gay ugandense David Kato
A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT vem a público demonstrar sua profunda tristeza e indignação, juntamente com o movimento internacional de Direitos Humanos, pelo bárbaro e cruel assassinato do ativista gay ugandense David Kato, morto a golpes de martelo na sua própria casa no dia 26 de janeiro.
Em outubro do ano passado, com a manchete “Enforque-os”, o jornal ugandense Rolling Stone publicou uma lista dos 100 “principais homossexuais” do país, entre eles o ativista David Kato, com fotografias, e até nomes completos e endereços.
Kato era dirigente do grupo Minorias Sexuais de Uganda (Sexual Minorities Uganda) e afirmou que vinha recebendo ameaças desde que o Rolling Stone publicou sua foto – na capa do jornal –, seu nome e seu endereço no ano passado.
Kato deu entrevista recentemente para a CNN: http://www.youtube.com/watch?v=UGkuwuqYDfE
Kato e mais duas pessoas processaram o jornal e seu editor-chefe, Giles Muhame, e no dia 3 de janeiro deste ano o Tribunal Superior determinou que o jornal havia violado os direitos constitucionais da pessoas lésbicas, gays, bissexuais e trans da Uganda. Segundo as reportagens da época, Muhame declarou no Facebook, em reação à decisão do Tribunal, que “os agentes do diabo serão vencidos”.
Vários noticiários afirmam que Muhame teria ligações com pastores evangélicos fundamentalistas atuando junto com o parlamentar David Bahati, autor do projeto de lei “anti-homossexual”, alguns dos quais integram inclusive a National Coalition Against Homosexuality and Sexual Abuse in Uganda (Coalizão Nacional contra a Homossexualidade e Abuso Sexual na Uganda).
A ABGLT conclama para que o Governo Brasileiro, através de suas instâncias apropriadas, reforce a exigência do comprimento dos preceitos universais dos Direitos Humanos na Uganda, e que solicite ao governo ugandense que garanta a apuração do caso e tome medidas para impedir a perseguição institucional e promover a proteção da comunidade LGBT ugandense.
A ABGLT pede que os fundamentalistas religiosos que estão disseminando o ódio na Uganda repensem suas posturas e pratiquem mais o mandamento maior da fé que professam, que é “amar o próximo como a si mesmo”. Incitar o ódio contra qualquer outro ser humano, independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, não é condizente com este princípio.
A ABGLT relembra, congratula e pede que seja seguido o exemplo do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que em dezembro de 2010 se referiu à Declaração Universal dos Direitos Humanos, e disse não existe uma “Declaração parcial” ou uma Declaração que vale “às vezes”, e afirmou que “aonde eu for, sempre que tiver a oportunidade, eu mobilizarei apoio para a descriminalização da homossexualidade no mundo inteiro.”
Que David Kato viva em nossa memória e nos dê força ainda mais para continuar na luta por justiça e igualdade, no Brasil, e no mundo.
Toni Reis
Presidente