Anna Khan é fotógrafa e é carioca. Em 2007, ela produziu a série Bala Perdida, resultado de um exercício em que fotografou os locais em que mulheres, homens e crianças perderam a vida por efeito da crescente violência urbana que, desde os anos 1980, é um traço doloroso da vida na cidade. Anna fotografou o vazio que persiste no rastro da violência.
Passados dez anos, em agosto de 2017, a editoria do jornal Extra anunciou que, a partir de então, iria usar o título Guerra no Rio para tratar do problema da violência na cidade. As fotos de Anna Kahn interrogam severamente essa normalização da semântica bélica para nomear brutalidades e perdas que não se dão não fora das fronteiras, como nas guerras convencionais, mas que rasgam os territórios de dentro.
O vazio das fotos de Kanh evoca o luto, ou mais bem a distribuição desigual do luto público, tema tratado por Carla Rodrigues, num texto exemplar. Nele, Rodrigues analisa como a ausência do luto oficial nas mortes de policiais é um sintoma brutal de ausência de um outro vazio, a ausência de institucionalidade que, segundo ela:
“garante a violência da PM, e também permite que a palavra guerra seja empregada como se esta fosse uma guerra entre a polícia e os bandidos, na qual uma população civil muito específica — pobres, negros, moradores de favelas –e um contingente militar também muito específico morrem como meros danos colaterais.
Para saber mais sobre o trabalho de Anna Kahn.
Imagem do Slide: da série Sem Medo do Escuro
Imagens do post: Carlos, 46 anos, motorista, morreu saindo do túnel Noel Rosa em Vila isabel