As crianças achavam o velho assustador. Ele tinha pernas de aranha, andava engraçado e estava um pouco deformado. Falaram para as crianças mais novas que ele era um assassino, um esquisitão e que “você nunca deve passar nem perto da casa dele”. Os adultos que o conheciam o consideravam um miserável, um estranho, ou aquele sujeito aposentado que estava sempre tirando fotos. Ele tinha sido um fotógrafo – trabalhara como fotógrafo comercial registrando navios, máquinas, ou o que quer que fosse pago para capturar. Agora, ele andava por Nova Orleans tentando tirar fotos com uma daquelas novas câmeras de mão.
Seu nome era E. J. Bellocq – John Ernest Joseph Bellocq. Ninguém sabia muito sobre ele. Era um homem quieto, reservado – o que sempre soa como o tipo de coisa dita por vizinhos depois que eles descobrem que estavam vivendo ao lado de um assassino em série particularmente ativo. Bellocq não era um assassino em série – mas ele tinha uma vida secreta que só veio à luz depois da sua morte em 1949.
Entre seus registros pessoais, havia cerca de noventa fotos guardadas em sua mesa. Essas imagens eram retratos de prostitutas do distrito da luz vermelha de Storyville por volta de 1912. Eram retratos – caracterizados com frequência por mulheres posando em cadeiras ou nos quartos onde trabalhavam como prostitutas. Bellocq deve ter tido uma relação próxima – se não íntima – com essas mulheres, a fim de ganhar a confiança delas e fazê-las posarem voluntariamente. Retratos fotográficos são um trabalho de colaboração. Essas mulheres posam como querem ser vistas – vestindo roupas de pele ou premiadas, sorrindo com um cão de estimação, deitadas como uma odalisca de Henri Matisse, ou jogando cartas. As imagens são planejadas e compostas. Fora isso, sabemos muito pouco sobre E.J. Bellocq e as mulheres que ele fotografou.
O que aprendemos são as condições históricas – a qualidade dos quartos e dos bordéis – em que essas prostitutas viveram e trabalharam durante a virada do século passado em Nova Orleans. O resto podemos imaginar ou ficcionalizar – como Louis Malle infamemente fez com seu filme (inspirado por uma música) do relacionamento de Bellocq com uma prostituta menor de idade em Pretty Baby.
Via Wiki Commons