
Por ocasião do lançamento do novo site do SPW, convidamos alguns parceiros de longa data para explorar nosso arquivo e selecionar um conteúdo (uma publicação, artigo, edição do boletim informativo, etc) para ser destacado como uma contribuição relevante para o nosso campo de pesquisa e ação e escrever algumas linhas explicando por que esse “algo” é importante.
A seguir, compartilhamos as generosas palavras de Douglas Sanque sobre o Pequeno Dicionário de Termos Ambíguos do Debate Político Atual. Douglas é doutor em Linguística Aplicada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em seu doutorado, analisou os discursos em circulação na comunicação do impeachment de Dilma Rousseff. Atualmente, é professor de Língua Portuguesa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ele foi um dos autores do Pequeno Dicionário, responsável pelo verbete “Globalismo”.
O conteúdo recomendado por ele está disponível neste link.
Aqueles que têm interesse em temas relacionados a gênero e sexualidade encontram no acervo do SPW um material imprescindível. O Sexuality Policy Watch é uma referência nesse tipo de pesquisa e reflexão, guiado sempre por um princípio ético de inclusão e respeito.
Com isso em mente, cabe refletir sobre o artigo CPAC Brasil 2024: a ultradireita transnacional em Santa Catarina. O texto discute o encontro conservador que hoje é uma referência na articulação internacional dos diferentes grupos de extrema direita. O artigo chama atenção principalmente porque, a princípio, não discorre sobre gênero e sexualidade (que são, afinal, os temas que movem uma entidade que carrega a palavra sexualidade em seu nome). Tampouco o texto é um tipo de “mudança de assunto” ou “fuga do tema”, que levaria seus autores a zerar a redação do ENEM.
Muito pelo contrário, o artigo nos mostra com clareza como os expoentes “internacionalistas” da extrema direita (como Eduardo Bolsonaro e Javier Milei, por exemplo) vêm circulando discursos que se contrapõem ao que chamam de “esquerdismo”. Esses discursos envolvem pautas ambientais, o “combate à corrupção”, o “enfrentamento à violência”, articuladas a temas de gênero e sexualidade, como os direitos de pessoas trans e o direito ao aborto.
Ao tratar todas essas questões como partes (diferentes, mas integradas) do discurso da ultradireita, o artigo demonstra que gênero e sexualidade são questões fundamentais na retórica desses grupos. Isso também significa que a resistência à extrema direita passa pelo enfrentamento dessas questões, ainda que na contramão do pânico moral e da desonestidade muitas vezes verificada. É uma luta que vale a pena.