Por Bruna Benevides

O retorno do PT ao governo federal, em 2023, reabriu o ciclo de conferências nacionais sobre políticas públicas com ampla participação da sociedade civil. Ao longo de 2025, várias dessas conferências aconteceram, nas quais sempre as questões de direitos humanos são objeto de debates. Essas arenas de construção democrática têm sido decisivas como espaços em que mulheres trans e travestis têm forte presença e protagonizam debates que antes eram negados.
Nossa presença ativa nesses eventos, nas conferências de Saúde, Educação, de Políticas para as Mulheres e a População LGBTQIA+, tensionam estruturas discriminatórias históricas e ampliam as fronteiras do que o Estado deve reconhecer como direitos humanos legítimos. A participação qualificada de ativistas e lideranças, muitas delas ligadas À ANTRA, fortalece o desenho de políticas públicas para responder às desigualdades vividas pela população trans. Também é prova de que nossas vozes não são apêndices, mas estão no centro de disputa por uma sociedade mais justa. Cada intervenção, cada proposta e cada posicionamento reafirmam que não existe democracia plena sem a inclusão trans na formulação das agendas nacionais.
O saldo das Conferências de 2025 foi profundamente positivo e significou conquistas inéditas. Uma delas foi o protagonismo trans na Conferência de Mulheres, que incluiu, pela primeira vez, uma fala na cerimônia de abertura. Mas também há que valorizar muito a presença de várias travestis idosas como delegadas na Conferência Nacional do Idoso, que acontece agora em dezembro, resultado direto da articulação da ANTRA.
Também é importante mencionar que vozes antitrans, muito agressivas, foram expulsas das Conferências de Políticas para as Mulheres e para a População LGBTQIA+. Essas decisões estão alinhadas com a posição firme do movimento nacional de pessoas trans e travestis frente a esses ataques transfóbicos que têm se multiplicado desde 2023.
A participação e visibilidade nas Conferências deste ano simbolizam uma reparação histórica e abrem caminhos para que novas gerações possam avançar sem carregar o peso do apagamento a que estiveram sujeitas as gerações anteriores. O sucesso das Conferências reafirmam o que já sabíamos: quando pessoas trans ocupam espaços de decisão, a política se aproxima da vida real. E é esse movimento de presença, disputa e transformação que projeta um futuro em que a cidadania trans não seja exceção, mas fundamento da democracia brasileira. E este tem sido nosso maior compromisso.