É inacreditável que “progressistas” avaliem a fala de Lula sobre o aborto como um erro. O Brasil é um dos países com as leis mais atrasadas em relação ao aborto. Governo após governo, descumprimos compromissos firmados em convenções da ONU para diminuir a mortalidade materna e rever a legislação sobre o aborto. Lula disse o que estamos cansados de saber: aqui, uma a cada cinco mulheres até 39 anos vai recorrer a um aborto.
Helena Borges Martins da Silva Paro, ginecologista e obstetra, professora da Faculdade de Medicina da UFU (Uberlândia, MG)
Os políticos reacionários de sempre já começam a detonar os direitos das mulheres antes mesmo do início da disputa eleitoral (Thiago Amparo, Opinião). Quanta hipocrisia desses políticos que, em nome de Deus, põem as mulheres em risco de morte. Anualmente são 500 mil abortos clandestinos no Brasil. É preciso um basta a essa nefasta influência religiosa nas políticas públicas. Aborto legal, seguro e gratuito, já!
Cristião Fernando Rosas, médico tocoginecologista, coordenador da Rede Médica pelo Direito de Decidir (São Paulo, SP)
Fonte: Painel do Leitor (Folha de São Paulo)
Em primeiro lugar, pergunto se é possível ser contrário ao debate sobre o direito ao aborto legal e seguro. Particularmente penso que é impossível ser contrário a este debate, porque o aborto inseguro é uma das principais causas de morte materna. No Brasil, a morte materna atinge 50 mulheres por 100 mil habitantes. Na América Latina, 3 a cada 4 abortos são realizados de forma insegura. As mulheres que mais morrem em decorrência da falta de políticas públicas relacionadas ao aborto são, em sua maioria, mulheres negras e pobres. Pensando na identidade religiosa destas mulheres, podemos imaginar que parte delas é evangélica. Lula está correto ao afirmar que o aborto é tema de saúde pública e, sinceramente, espero que ele não recue em sua posição. O que Lula pensa, enquanto indivíduo, a respeito do tema, não deve ser parte do debate. O que importa é como, enquanto candidato, ele pretende lidar com a ausência de políticas públicas relacionadas ao aborto legal e seguro. Sempre me surpreende como uma parte de lideranças evangélicas, tanto progressistas quanto conservadoras, tutelam o pensamento e a opinião das pessoas evangélicas. O povo evangélico, para começar, não é homogêneo. É impossível dizer o que pensam “os evangélicos”. É surpreendente que este tema historicamente tem sido interditado no debate público com o argumento de que a população religiosa-cristã seria imatura para debater o assunto. Penso que está mais do que na hora de discutirmos sim este tema, ouvindo, preferencialmente, mulheres, porque são elas as mais afetadas. É surpreendente que não se aborda, com a mesma intensidade, o fato de homens evangélicos não assumirem a paternidade. Seria bom que este debate fosse feito também. Por fim, penso que não se pode ganhar as eleições rifando a vida das mulheres.
Romi Benke, Observatório Evangélico