Ventura Profana é uma cantora, escritora, compositora, performer e artista visual baiana. Ela também é pastora evangélica e cantora evangélica.
A sua arte interroga as implicações e efeitos do Deuteronômio no Brasil e no mundo e como é difundido pelas igrejas neopentecostais. Ela retrata as formas de vida das travestis negras brasileiras, entrelaçando elementos religiosos e a crítica da macropolítica e da violência estrutural, como na colagem que ilustra este texto.
Olhando a imagem, no lugar do céu há uma cidade urbana altamente contemporânea e seus gigantescos arranha-céus virados de cabeça para baixo. Sob ela, no que parece ser um cemitério israelense, há uma pequena imagem que retrata uma incursão policial em uma favela brasileira. Esta sobreposição cria uma correlação entre o capitalismo, o Holocausto e a necropolítica estatal brasileira contra o povo negro. Também nos lembra que, enquanto Israel, o povo judeu e o Holocausto são tropos constantemente ativados por evangélicos conservadores, estes atores religiosos não expressam simbolicamente a mesma identificação e compaixão com as vítimas diárias da violência estatal no Brasil.
Bem no meio da imagem vemos o Maracanã, o principal estádio brasileiro, ao qual foi acrescentado um arco com um crucifixo. A cruz, entretanto, permanece sob um dos principais símbolos da identidade brasileira: a Copa do Mundo de futebol. O estádio é cercado por escombros, evocando os processos de gentrificação e despejos urbanos que caracterizaram os preparativos para a Copa do Mundo de 2014. Ventura Profana hibridiza elementos dispersos da cultura e política brasileira para revelar seus paradoxos e desigualdades econômicas, religiosas e raciais.
No vídeo Resplandescente, Ventura Profana faz uma ode ao corpo travesti: