por Sandra Mazo Cardona
No dia 17 de junho de 2018, Iván Duque, o candidato do Centro Democrático, ganhou a eleição presidencial na Colômbia com 54% dos votos. O segundo turno foi profundamente polarizado entre o direitista Duque e o candidato de esquerda Gustavo Petro. A “ideologia de gênero” e os demais argumentos da pós-verdade foram determinantes para a vitória do “Não” no plesbiscito pela Paz em 2016. Tal triunfo, evidentemente, contribuiu para o “extraordinário” fortalecimento na recente campanha presidencial da proposta de direita encabeçada pelo ex presidente Álvaro Uribe, ainda que nas eleições regionais os resultados da direita tenham sido muito limitados (apenas um governador eleito).
A eleição presidencial que elegeu Iván Duque também esteve impregnada de temas vinculados à “ideologia de gênero” e, inclusive, contou com o apoio de personagens que lideraram posições contrárias aos direitos das mulheres e populações LGBTI, como é o caso do ex procurador Alejandro Ordoñez e da promotora Vivianne Morales, que apoiaram Duque, mesmo quando, estrategicamente, foram colocados no segundo escalão da equipe de campanha. Também as igrejas apoiaram abertamente o candidato, especialmente as evangélicas, cuja posição é políticamente conservadora e restritiva aos direitos e liberdades. Donde se conclui que o discurso anti-gênero e contra os direitos das mulheres constituíram parte importante da pauta da campanha. Foram, sobretudo, utilizados em pequenas reuniões de bairro, nas igrejas. Isso não apareceu explicitamente nos debates e entrevistas nos grandes meios de comunicação, nos quais Duque mostrou uma postura supostamente mais respeitosa aos direitos conquistados nessas causas, a qual, no entanto, projetava certa falsidade e hipocrisia.
Há alguns anos, posturas ultra-conservadoras conseguiram ampliar a presença na Colômbia, já que propostas apenas liberais terminam sendo desacreditadas ou então colocadas para além da extrema-esquerda. Não parece estranho, portanto, que a paz ou o diálogo com as guerrilhas sejam utilizados eleitoralmente como uma entrega do país à guerrilha agora desmobilizada, o que é absolutamente falso. Além disso, à exceção do tema da paz, as agendas políticas e econômicas de Santos e Uribe (Duque) são as mesmas.
Há razões para não ser muito otimista, mas há ainda mais razões para muito pessimismo. Podemos prever as tentativas de restrição dos direitos alcançados e de diminuição das garantias, por meio de estratégias jurídicas e políticas como revisões constitucionais, e também a criação de um Ministério da Família e a implementação de políticas públicas com enfoque familista. Além disso, vislumbra-se personagens de traço fundamentalista ocupando altos cargos nos Ministérios da Educação, Justiça ou ainda na Procuradoria. Esperamos um cenário político e social muito complicado, que nos impõe desafios e oportunidades como movimentos sociais para fortalecer a resistência, organização, mobilização social e as lutas.