Esta nota apresenta números elaborados por pesquisas de opinião/intenção de voto e os resultados eleitorais sobre o Segundo turno das eleições presidenciais brasileiras de 2018. Os dados são provenientes de diferentes fontes:
- Itens 1, 2, e 10 foram retirados da base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
- Os dados e mapas dos itens 4, 5 e 6 (cidades, renda, raça/cor e religião) cruzam os dados da base de dados do TSE com indicadores socioeconômicos coletados pelo IBGE.
- Os números apresentados em outros itens são provenientes dos resultados compartilhados pelas pesquisas de intenção de voto do Datafolha.
- Números gerais
Fernando Haddad (PT) recebeu 47 milhões de votos enquanto Jair Bolsonaro (PSL) recebeu 57,8 milhões de votos, totalizando 55 % dos votos válidos. Ao considerarmos a totalidade de votos (válidos, nulos, brancos e abstenções), há 2,5 milhões de votos brancos (2,1%), 8,6 milhões de votos nulos (7,4%) e 31,3 milhões de abstenções (21,3%). Isso significa que, do universo de 147,3 milhões de brasileiros aptos a votar, a soma de abstenções, votos nulos e brancos equivale a 42,1 milhões de pessoas, ao redor de 30% do total. Esse padrão não é novo, considerando que no ano de 2014 37 milhões de pessoas não tiveram votos válidos.
Bolsonaro foi eleito, dentro do universo total, por 39% de eleitores, o que não compõe uma maioria absoluta. Desta forma, 61,8% de eleitores brasileiros não votaram no Bolsonaro (a soma dos votos em Haddad, abstenções, nulos e brancos).
- Votos por estados
Bolsonaro ganhou em 15 estados. O PT, por sua vez, perdeu em quarto estados que tradicionalmente ganhava desde 2002: Amapá, Amazonas, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Minas e Rio são o segundo e terceiro maiores colégios eleitorais do país.
- Padrões regionais
Bolsonaro ganhou na região Sul com 68% dos votos, seguido pelo Centro-Oeste com 66% dos votos e o Sudeste com 65% dos votos. O PT venceu em todos os estados do Nordeste com 69% dos votos da região.
- Bolsonaro ganhou nas cidades mais ricas e com IDH mais alto
Uma matéria do Estado de São Paulo informou que Haddad ganhou nos municípios que apresentam os menores índices de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), enquanto Bolsonaro venceu em 98% dos municípios que apresentam os maiores índices de IDH.
De forma a confirmar esses resultados, o El País divulgou uma matéria similar que revela uma grande divisão entre os dois candidatos de acordo com a renda. Haddad venceu nos municípios mais pobres e Bolsonaro venceu nos mais ricos.
Entre os eleitores que recebem entre cinco e dez salários mínimos por mês, 66% declararam voto em Bolsonaro. Esse é o grupo onde o candidato recebeu o maior número relativo de votos quando consideramos os agrupamentos por renda. Haddad ganhou apenas em um agrupamento, entre as famílias que recebem de dois a cinco salários mínimos.
- O voto de acordo com raça/cor
Os mapas divulgados pelo El País também revelam que Bolsonaro venceu nas cidades e estados onde a população branca é predominante, enquanto Haddad venceu nos estados e cidades onde a população negra é maior. Nesta análise, é importante relembrar a convergência entre raça/cor e renda no Brasil.
- Voto por nível educacional
Bolsonaro venceu de forma predominante entre pessoas com educação superior e também venceu com 51% entre pessoas que concluíram o ensino médio. Neste último agrupamento, 35% declararam que votariam em Haddad, que é preferido pela maioria entre eleitores que concluíram o ensino fundamental. De forma significativa, um grande contingente de analfabetos declarou voto no candidato Bolsonaro.
- O voto evangélico
Em artigo publicado pelo Ecodebate, o demógrafo José Eustáquio Diniz analisou os padrões de votos religiosos. Entre todas as denominações religiosos, os evangélicos se destacam por terem votado massivamente em Bolsonaro: 69%. Esse grande contingente significou uma vantagem de 11,6 milhões de eleitores no candidato da extrema-direita. Em comparação, esse número foi maior do que a diferença de votos entre os dois candidatos, que foie m torno de 10 milhões. Isso permite concluir que o voto evangélico foi definitivo para os resultados dessas eleições.
- Diferença entre sexo nos padrões de votos
A base de dados da Justiça Eleitoral informa que o número de eleitoras mulheres representam 52,5% do universo de eleitores. Entretanto, devido ao voto ser secreto, os padrões não podem ser desagregados em termos de sexo. Desta forma, esta informação deve ser analisada através dos resultados das pesquisas de intenção de voto. A primeira pesquisa, divulgada em julho, revelou uma pronunciada distinção entre eleitores masculinos e femininos. Enquanto 30% dos eleitores masculinos já tinham se decidido pelo candidato do PSL, somente 15% das eleitoras femininas declararam que votariam nele. Em agosto, outra pesquisa revelou que 30% das mulheres ainda não tinham decidido seu voto. No entanto, após o primeiro turno, as pesquisas começaram a mostrar uma grande disparidade no voto feminino, como demonstra o gráfico abaixo.
A mudança nos votos das mulheres em direção a Bolsonaro ainda requer um esforço mais amplo e aprofundado de pesquisa e análise, em particular porque o movimento que definiria essa divisão começou após as massivas manifestações #EleNão no dia 29 de setembro e expandiram após o primeiro turno. Neste momento, o voto masculino já se definia de forma mais proeminente, já que 55% dos homens declararam seu voto em Bolsonaro e somente 35% declararam em Haddad.
A antropóloga Isabela Oliveira Kalil aponta que muitos outros eventos e fatores devem ser levados em consideração para entender em totalidade essa mudança, como a saída de Bolsonaro do hospital após a facada e o apoio declarado publicamente pelo chefe da maior igreja pentecostal do país, além de outras mudanças em sua estratégia de campanha.
- Diferença etária nos padrões de voto
De acordo com os agrupamentos etários, Bolsonaro venceu de forma predominante entre as pessoas com mais de 60 anos: 50% declarou seu voto no candidato enquanto 24% declarou seu voto em Haddad.
Quando sexo e idade são combinados, os dados revelam que 60% de mulheres entre 16 e 24 anos votaram em Haddad, enquanto entre homens na mesma faixa etária, 60% votou em Bolsonaro. Como podemos observar, as diferenças entre os sexos são bem pronunciadas nessa eleição e especialmente drásticas entre pessoas mais jovens.
- Como os LGBTs votaram
Pela primeira vez, o Datafolha introduziu um eixo para agregar os eleitores de acordo com a sua orientação sexual e identidade de gênero. Haddad ganhou entre a população LGBT com 57% dos votos. No entanto, a porcentagem de eleitores LGBT que escolheram Bolsonaro é alta, já que 29% declararam voto nele (leia no El País).
- Como expatriados votaram
Entre brasileiros que moram fora do país, Bolsonaro ganhou com 71% dos votos. Ele venceu em 104 cidades enquanto Haddad recebeu 29% dos votos e venceu em 19 cidades. Bolsonaro teve ampla vantagem no Japão, EUA, Itália e Portugal. Haddad venceu com ampla vantagem em Cuba, Alemanha, França, Holanda e Rússia.