Depois de eleito no dia 27 de outubro de 2019, o governo da chapa Frente de Todos, presidido por Alberto Fernández, traz grandes promessas de uma resistência de esquerda frente ao cenário dantesco na região latino americana, tendo a “solidariedade como viga mestra da reconstrução nacional”.
À frente do Ministério da Mulher, Gênero e Diversidade, a feminista Elizabeth Gómez Alcorta anunciou que a sua pasta vai atender a uma demanda histórica do feminismo, visando equalizar a crise econômica do país através de investimento na economia do cuidado, que quebra o ciclo da desigualdade estrutural de gênero. Como primeira medida, criou o Mapa Federal de Cuidados, com o apoio da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), que vai mapear os serviços existentes. Além dessa diretriz, a pasta conta com nove mulheres estreitamente associadas aos movimentos feministas e de outras lutas coletivas, das quais Alba Rueda, que coordena a a Subsecretaria de Políticas de Diversidade, é a primeira mulher trans do país a ocupar esse posto (Leia em La diaria).
O médico Ginés González Garcia, com uma longa trajetória de luta pelo direito à saúde e ao aborto, foi apontado como Ministro da Saúde. No dia de sua posse, declarou que fará um ministério verde, em alusão aos pañuelos que representam esta luta. Como uma de suas primeiras medidas, reinstaurou o Protocolo da Interrupção Legal da Gravidez atualizado, cuja versão anterior havia sido aprovada e suspensa pelo então presidente Macri e cuja linguagem amplia a definição de risco à saúde para incluir saúde mental como uma das exceções que permite o aborto legal (acesse o texto da norma).
Na cultura, o Ministro Tristan Bauer anunciou um grande investimento na compra de 130 mil livros destinados a bibliotecas populares.
Já Fernandez, adepto à linguagem inclusiva nas redes sociais, fez um discurso de inauguração em que se dirigiu a “todes” em La Leonesa no dia 17 de fevereiro.
No entanto, ainda mais significativo, em seu discurso na abertura do Congresso, o direito ao aborto teve protagonismo, quando o presidente declarou que vai enviar um projeto de lei em 10 dias para a Casa. Entre os pontos principais, Fernandez também anunciou, entre outras medias, que vai modificar a Lei da Economia de Conhecimento, implementando uma perspectiva de gênero na criação de empregos em tecnologia; vai enviar um projeto de lei que ratifica o Convênio 190 sobre Violência e Assédio no Mundo do Trabalho da OIT; e que vai tirar 90% dos fundos da Agência de Inteligência sacando as suas atribuições repressivas, entre outros (Veja os principais pontos do discurso de Fernández aqui).