Anna Dumitriu é uma artista britânica que trabalha com BioArte, escultura, instalação e mídia digital para explorar nosso relacionamento com doenças infecciosas, biologia sintética e robótica. Seu trabalho tenta entrelaçar as implicações científicas, culturais e pessoais de doenças infecciosas, usando ferramentas e técnicas da microbiologia e biologia sintética no laboratório e no estúdio para criar obras de arte que visam revelar as histórias estranhas e o futuro emergente da biomedicina. Ela estuda como uma doença ou um vírus são vistos e representados ao longo de largas escalas de tempo, assim como mitos e estigmas são criados.
Em um de seus projetos, por exemplo, chamado The Romantic Disease, ela trabalha com a tuberculose. Ainda hoje, como Dumitriu argumenta, a tuberculose é responsável por mais mortes do que, resistindo às tentativas de contê-la. Como ela expõe, estamos interessados em certas doenças e em outras não. O Covid-19 já matou mais de 50.000 pessoas em todo o mundo e entre 300.000 e 650.000 pessoas morrem de gripe a cada ano, milhões morrem de tuberculose. Além disso, as epidemias e principalmente como lidamos com elas, também tem historicamente servido para atribuir a culpa a um outro, a um inimigo, um estrangeiro ou uma minoria, através de discursos falsos, racistas e bélicos. Os chineses são culpados por muitos países pela disseminação do coronavírus. No passado, esse era o caso em outras comunidades: os judeus foram acusados de espalhar a praga; para tuberculose, foram os imigrantes que foram destacados pelas sociedades ocidentais. Segundo Dumitriu, estudos científicos mostram, por exemplo, que foram os europeus que espalharam a tuberculose em todo o mundo com a colonização, como na Índia, onde a população não tinha defesas imunológicas para lutar contra ela. “Além disso, uma epidemia ainda afeta todos os seres humanos: a saúde é um problema global. As epidemias são assuntos urgentes, imbuídos de muitos mal-entendidos; parte do meu trabalho é comunicar essas questões, olhar a história e trazer complexidade.”
Como materiais, Dumitriu costuma alteras objetos históricos, como equipamentos médicos e de laboratório, adicionando bordados, além de incorporar bactérias ou DNA bacteriano nos tecidos, como no caso da obra Engineered Antibody (2016).
Eu sou fascinada pelo conceito de sublime em termos de bactérias e essa noção de “sublime bacteriano”, sobre a qual falei pela primeira vez em 2004, continuou a informar meu trabalho desde então. Há um tipo de admiração que podemos sentir quando nos esforçamos para manter o conceito de bactérias em nossas mentes: esses minúsculos organismos obscuros com suas habilidades fascinantes, complexas e ocasionalmente indutoras de terror. Eu tento trazer isso para o meu trabalho através da presença de vestígios dos organismos reais, embora muitas vezes esterilizados no caso de patógenos perigosos, os objetos ainda estão contaminados com sua memória.
“Engineered Antibody” (2016) é um colar de contas baseado na pesquisa de Xiang Li, que trabalha com um anticorpo purificado do sangue de um paciente HIV positivo. Composto por 452 contas feitas à mão, ele representa e contém fisicamente os 21 aminoácidos reais do anticorpo na ordem precisa. A cadeia leve e a cadeia pesada da estrutura da proteína foram dobradas na estrutura exata do anticorpo. Um anticorpo é uma proteína produzida pelo sistema imunológico para combater corpos estranhos e vírus, os quais podem se ligar ao HIV. Xiang Li está trabalhando para melhorar esse anticorpo, projetando-o para bloquear melhor as infecções por HIV através da introdução de um aminoácido adicional chamado sulfotirosina.
Numa época em que novas descobertas científicas complexas estão sendo feitas quase todos os dias, mas estão muito além da compreensão dos leigos, e quando as histórias que lemos competem para nos aterrorizar mais do que nunca, estamos mais em risco do que nunca de sermos levados a comprar a última “cura”. Ficamos cegos pela pseudociência e pela propaganda da mídia sobre a velocidade e o sucesso da biotecnologia e nos tornamos presas fáceis das curas milagrosas.
Na sua obra “Plague Dress”, o vestido ao estilo dos anos 1665 é feito de seda crua, tingida à mão com casca de nozes em referência ao famoso herborista da época Nicholas Culpeper, que recomendava as nozes como tratamento para a peste. O vestido é aplicado com bordados originais do século XVII que a artista impregnou com o DNA da bactéria Yesinia pestis (Praga), que ela extraiu das bactérias mortas da praga. O vestido é recheado e cercado de lavanda, que historicamente eram levadas sob o nariz das pessoas durante a Grande Peste de Londres para cobrir o fedor da infecção, e também prevenir a doença, que se acreditava ser causada por ‘ar ruim’ ou ‘miasmas’.
*Informações de Digicult; Anna Dumitriu; Imperica Magazine; Mouvement; Axis Web.